quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Gato Preto (Parte III - Final)

Na verdade, naquele momento eu era um miserável — um ser que ia além da própria miséria da humanidade. Era uma besta-fera, cujo irmão fora por mim desdenhosamente destruído... uma besta-fera que se engendrara em mim, homem feito à imagem do Deus Altíssimo. Oh, grande e insuportável infortúnio! Ai de mim! Nem de dia, nem de noite, conheceria jamais a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava a sós um único momento; e, à noite, despertava de hora em hora, tomado do indescritível terror de sentir o hálito quente da coisa sobre o meu rosto, e o seu enorme peso — encarnação de um pesadelo que não podia afastar de mim — pousado eternamente sobre o meu coração!
Sob a pressão de tais tormentos, sucumbiu o pouco que restava em mim de bom. Pensamentos maus converteram-se em meus únicos companheiros — os mais sombrios e os mais perversos dos pensamentos. Minha rabugice habitual se transformou em ódio por todas as coisas e por toda a humanidade — e enquanto eu, agora, me entregava cegamente a súbitos, freqüentes e irreprimíveis acessos de cólera, minha mulher - pobre dela! - não se queixava nunca convertendo-se na mais paciente e sofredora das vítimas.
Um dia, acompanhou-me, para ajudar-me numa das tarefas domésticas, até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar, O gato seguiu-nos e, quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal, se atingisse o alvo. Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe. Tomado, então, de fúria demoníaca, livrei o braço do obstáculo que o detinha e cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente, sem lançar um gemido.
Realizado o terrível assassínio, procurei, movido por súbita resolução, esconder o corpo. Sabia que não poderia retirá-lo da casa, nem de dia nem de noite, sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos.
Ocorreram-me vários planos. Pensei, por um instante, em cortar o corpo em pequenos pedaços e destruí-los por meio do fogo. Resolvi, depois, cavar uma fossa no chão da adega. Em seguida, pensei em atirá-lo ao poço do quintal. Mudei de idéia e decidi metê-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria, na forma habitual, fazendo com que um carregador o retirasse da casa. Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.
Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.
E não me enganei em meus cálculos. Por meio de uma alavanca, desloquei facilmente os tijolos e tendo depositado o corpo, com cuidado, de encontro à parede interior. Segurei-o nessa posição, até poder recolocar, sem grande esforço, os tijolos em seu lugar, tal como estavam anteriormente. Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível, preparei uma argamassa que não se podia distinguir da anterior, cobrindo com ela, escrupulosamente, a nova parede. Ao terminar, senti-me satisfeito, pois tudo correra bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada. Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em tomo, disse, de mim para comigo: "Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão".
O passo seguinte foi procurar o animal que havia sido a causa de tão grande desgraça, pois resolvera, finalmente, matá-lo. Se, naquele momento, tivesse podido encontrá-lo, não haveria dúvida quanto à sua sorte: mas parece que o esperto animal se alarmara ante a violência de minha cólera, e procurava não aparecer diante de mim enquanto me encontrasse naquele estado de espírito. Impossível descrever ou imaginar o profundo e abençoado alívio que me causava a ausência de tão detestável felino. Não apareceu também durante a noite — e, assim, pela primeira vez, desde sua entrada em casa, consegui dormir tranqüila e profundamente. Sim, dormi mesmo com o peso daquele assassínio sobre a minha alma.
Transcorreram o segundo e o terceiro dia — e o meu algoz não apareceu. Pude respirar, novamente, como homem livre. O monstro, aterrorizado fugira para sempre de casa. Não tomaria a vê-lo! Minha felicidade era infinita! A culpa de minha tenebrosa ação pouco me inquietava. Foram feitas algumas investigações, mas respondi prontamente a todas as perguntas. Procedeu-se, também, a uma vistoria em minha casa, mas, naturalmente, nada podia ser descoberto. Eu considerava já como coisa certa a minha felicidade futura.
No quarto dia após o assassinato, uma caravana policial chegou, inesperadamente, a casa, e realizou, de novo, rigorosa investigação. Seguro, no entanto, de que ninguém descobriria jamais o lugar em que eu ocultara o cadáver, não experimentei a menor perturbação. Os policiais pediram-me que os acompanhasse em sua busca. Não deixaram de esquadrinhar um canto sequer da casa. Por fim, pela terceira ou quarta vez, desceram novamente ao porão. Não me alterei o mínimo que fosse. Meu coração batia calmamente, como o de um inocente. Andei por todo o porão, de ponta a ponta. Com os braços cruzados sobre o peito, caminhava, calmamente, de um lado para outro. A polícia estava inteiramente satisfeita e preparava-se para sair. O júbilo que me inundava o coração era forte demais para que pudesse contê-lo. Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e também para tomar duplamente evidente a minha inocência.
— Senhores — disse, por fim, quando os policiais já subiam a escada — , é para mim motivo de grande satisfação haver desfeito qualquer suspeita. Desejo a todos os senhores ótima saúde e um pouco mais de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem construída... (Quase não sabia o que dizia, em meu insopitável desejo de falar com naturalidade.) Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes — os senhores já se vão? — , estas paredes são de grande solidez.
Nessa altura, movido por pura e frenética fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa de meu coração.
Que Deus me guarde e livre das garras de Satanás! Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo, completamente anormal e inumano. Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia, e dos demônios exultantes com a sua condenação.
Quanto aos meus pensamentos, é loucura falar. Sentindo-me desfalecer, cambaleei até à parede oposta. Durante um instante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror. Decorrido um momento, doze braços vigorosos atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto, aos olhos dos presentes.
Sobre sua cabeça, com a boca vermelha dilatada e o único olho chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco.
Eu havia emparedado o monstro dentro da tumba!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Gato Preto (Parte II)

No dia seguinte ao do incêndio, visitei as ruínas. As paredes, com exceção de uma apenas, tinham desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior, situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo — coisa que atribuí ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno dessa parede, e muitas pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade, uma parte dela, As palavras "estranho!", "singular!", bem como outras expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em tomo do pescoço do animal.
Logo que vi tal aparição — pois não poderia considerar aquilo como sendo outra coisa — , o assombro e terror que se me apoderaram foram extremos. Mas, finalmente, a reflexão veio em meu auxílio. O gato, lembrei-me, fora enforcado num jardim existente junto à casa. Aos gritos de alarma, o jardim fora imediatamente invadido pela multidão. Alguém deve ter retirado o animal da árvore, lançando-o, através de uma janela aberta, para dentro do meu quarto. Isso foi feito, provavelmente, com a intenção de despertar-me. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima de minha crueldade no gesso recentemente colocado sobre a parede que permanecera de pé. A cal do muro, com as chamas e o amoníaco desprendido da carcaça, produzira a imagem tal qual eu agora a via.
Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo, de maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse. Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares que então freqüentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante que pudesse substituí-lo.
Uma noite, em que me achava sentado, meio aturdido, num antro mais do que infame, tive a atenção despertada, subitamente, por um objeto negro que jazia no alto de um dos enormes barris, de genebra ou rum, que constituíam quase que o único mobiliário do recinto. Fazia já alguns minutos que olhava fixamente o alto do barril, e o que então me surpreendeu foi não ter visto antes o que havia sobre o mesmo. Aproximei-me e toquei-o com a mão. Era um gato preto, enorme — tão grande quanto Pluto — e que, sob todos os aspectos, salvo um, se assemelhava a ele. Pluto não tinha um único pêlo branco em todo o corpo — e o bichano que ali estava possuía uma mancha larga e branca, embora de forma indefinida, a cobrir-lhe quase toda a região do peito.
Ao acariciar-lhe o dorso, ergueu-se imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a minha atenção lhe causasse prazer. Era, pois, o animal que eu procurava. Apressei-me em propor ao dono a sua aquisição, mas este não manifestou interesse algum pelo felino. Não o conhecia; jamais o vira antes.
Continuei a acariciá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa, o animal demonstrou disposição de acompanhar-me. Permiti que o fizesse — detendo-me, de vez em quando, no caminho, para acariciá-lo. Ao chegar, sentiu-se imediatamente à vontade, como se pertencesse a casa, tomando-se, logo, um dos bichanos preferidos de minha mulher.
De minha parte, passei a sentir logo aversão por ele. Acontecia, pois, justamente o contrário do que eu esperava. Mas a verdade é que - não sei como nem por quê — seu evidente amor por mim me desgostava e aborrecia. Lentamente, tais sentimentos de desgosto e fastio se converteram no mais amargo ódio. Evitava o animal. Uma sensação de vergonha, bem como a lembrança da crueldade que praticara, impediam-me de maltratá-lo fisicamente. Durante algumas semanas, não lhe bati nem pratiquei contra ele qualquer violência; mas, aos poucos - muito gradativamente — , passei a sentir por ele inenarrável horror, fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como se fugisse de uma peste.
Sem dúvida, o que aumentou o meu horror pelo animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte ao que o levei para casa, que, como Pluto, também havia sido privado de um dos olhos. Tal circunstância, porém, apenas contribuiu para que minha mulher sentisse por ele maior carinho, pois, como já disse, era dotada, em alto grau, dessa ternura de sentimentos que constituíra, em outros tempos, um de meus traços principais, bem como fonte de muitos de meus prazeres mais simples e puros.
No entanto, a preferência que o animal demonstrava pela minha pessoa parecia aumentar em razão direta da aversão que sentia por ele. Seguia-me os passos com uma pertinácia que dificilmente poderia fazer com que o leitor compreendesse. Sempre que me sentava, enrodilhava-se embaixo de minha cadeira, ou me saltava ao colo, cobrindo-me com suas odiosas carícias. Se me levantava para andar, metia-se-me entre as pemas e quase me derrubava, ou então, cravando suas longas e afiadas garras em minha roupa, subia por ela até o meu peito. Nessas ocasiões, embora tivesse ímpetos de matá-lo de um golpe, abstinha-me de fazê-lo devido, em parte, à lembrança de meu crime anterior, mas, sobretudo — apresso-me a confessá-lo — , pelo pavor extremo que o animal me despertava.
Esse pavor não era exatamente um pavor de mal físico e, contudo, não saberia defini-lo de outra maneira. Quase me envergonha confessar — sim, mesmo nesta cela de criminoso — , quase me envergonha confessar que o terror e o pânico que o animal me inspirava eram aumentados por uma das mais puras fantasias que se possa imaginar. Minha mulher, mais de uma vez, me chamara a atenção para o aspecto da mancha branca a que já me referi, e que constituía a única diferença visível entre aquele estranho animal e o outro, que eu enforcara. O leitor, decerto, se lembrará de que aquele sinal, embora grande, tinha, a princípio, uma forma bastante indefinida. Mas, lentamente, de maneira quase imperceptível — que a minha imaginação, durante muito tempo, lutou por rejeitar como fantasiosa —, adquirira, por fim, uma nitidez rigorosa de contornos. Era, agora, a imagem de um objeto cuja menção me faz tremer... E, sobretudo por isso, eu o encarava como a um monstro de horror e repugnância, do qual eu, se tivesse coragem, me teria livrado. Era agora, confesso, a imagem de uma coisa odiosa, abominável: a imagem da forca! Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte!

sábado, 11 de julho de 2009

O Gato Preto (Parte I)

Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã posso morrer e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e destruíram.
No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror — mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotesco. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum — uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que, a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.
Desde a infância, tornaram-se patentes a docilidade e o sentido humano de meu caráter. A ternura de meu coração era tão evidente, que me tomava alvo dos gracejos de meus companheiros. Gostava, especialmente, de animais, e meus pais me permitiam possuir grande variedade deles. Passava com eles quase todo o meu tempo, e jamais me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer ou os acariciava. Com os anos, aumentou esta peculiaridade de meu caráter e, quando me tomei adulto, fiz dela uma das minhas principais fontes de prazer. Aos que já sentiram afeto por um cão fiel e sagaz, não preciso dar-me ao trabalho de explicar a natureza ou a intensidade da satisfação que se pode ter com isso. Há algo, no amor desinteressado, e capaz de sacrifícios, de um animal, que toca diretamente o coração daqueles que tiveram ocasiões freqüentes de comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade de um simples homem.
Casei cedo, e tive a sorte de encontrar em minha mulher disposição semelhante à minha. Notando o meu amor pelos animais domésticos, não perdia a oportunidade de arranjar as espécies mais agradáveis de bichos. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um cão, coelhos, um macaquinho e um gato.
Este último era um animal extraordinariamente grande e belo, todo negro e de espantosa sagacidade. Ao referir-se à sua inteligência, minha mulher, que, no íntimo de seu coração, era um tanto supersticiosa, fazia freqüentes alusões à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são feiticeiras disfarçadas. Não que ela se referisse seriamente a isso: menciono o fato apenas porque aconteceu lembrar-me disso neste momento.
Pluto — assim se chamava o gato — era o meu preferido, com o qual eu mais me distraía. Só eu o alimentava, e ele me seguia sempre pela casa. Tinha dificuldade, mesmo, em impedir que me acompanhasse pela rua.
Nossa amizade durou, desse modo, vários anos, durante os quais não só o meu caráter como o meu temperamento — enrubesço ao confessá-lo — sofreram, devido ao demônio da intemperança, uma modificação radical para pior. Tomava-me, dia a dia, mais taciturno, mais irritadiço, mais indiferente aos sentimentos dos outros. Sofria ao empregar linguagem desabrida ao dirigir-me à minha mulher. No fim, cheguei mesmo a tratá-la com violência. Meus animais, certamente, sentiam a mudança operada em meu caráter. Não apenas não lhes dava atenção alguma, como, ainda, os maltratava. Quanto a Pluto, porém, ainda despertava em mim consideração suficiente que me impedia de maltratá-lo, ao passo que não sentia escrúpulo algum em maltratar os coelhos, o macaco e mesmo o cão, quando, por acaso ou afeto, cruzavam em meu caminho. Meu mal, porém, ia tomando conta de mim — que outro mal pode se comparar ao álcool? — e, no fim, até Pluto, que começava agora a envelhecer e, por conseguinte, se tomara um tanto rabugento, até mesmo Pluto começou a sentir os efeitos de meu mau humor.
Certa noite, ao voltar a casa, muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo. Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma perversidade mais do que diabólica, causada pela genebra, fez vibrar todas as fibras de meu ser.Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos! Enrubesço, estremeço, abraso-me de vergonha, ao referir-me, aqui, a essa abominável atrocidade.
Quando, com a chegada da manhã, voltei à razão — dissipados já os vapores de minha orgia noturna — , experimentei, pelo crime que praticara, um sentimento que era um misto de horror e remorso; mas não passou de um sentimento superficial e equívoco, pois minha alma permaneceu impassível. Mergulhei novamente em excessos, afogando logo no vinho a lembrança do que acontecera.
Entrementes, o gato se restabeleceu, lentamente. A órbita do olho perdido apresentava, é certo, um aspecto horrendo, mas não parecia mais sofrer qualquer dor. Passeava pela casa como de costume, mas, como bem se poderia esperar, fugia, tomado de extremo terror, à minha aproximação. Restava-me ainda o bastante de meu antigo coração para que, a princípio, sofresse com aquela evidente aversão por parte de um animal que, antes, me amara tanto. Mas esse sentimento logo se transformou em irritação. E, então, como para perder-me final e irremissivelmente, surgiu o espírito da perversidade. Desse espírito, a filosofia não toma conhecimento. Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano - uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer ações vis ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não devia cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante mesmo quando estamos no melhor do nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos como tal? Esse espírito de perversidade, digo eu, foi a causa de minha queda final. O vivo e insondável desejo da alma de atormentar-se a si mesma, de violentar sua própria natureza, de fazer o mal pelo próprio mal, foi o que me levou a continuar e, afinal, a levar a cabo o suplício que infligira ao inofensivo animal. Uma manhã, a sangue frio, meti-lhe um nó corredio em torno do pescoço e enforquei-o no galho de uma árvore. Fi-lo com os olhos cheios de lágrimas, com o coração transbordante do mais amargo remorso. Enforquei-o porque sabia que ele me amara, e porque reconhecia que não me dera motivo algum para que me voltasse contra ele. Enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado — um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal, afastando-a, se é que isso era possível, da misericórdia infinita de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente terrível.
Na noite do dia em que foi cometida essa ação tão cruel, fui despertado pelo grito de "fogo!". As cortinas de minha cama estavam em chamas. Toda a casa ardia. Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi completa. Todos os meus bens terrenos foram tragados pelo fogo, e, desde então, me entreguei ao desespero.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Cristina

Cristina era uma socióloga respeitada. Especializou-se no estudo da época da inquisição, quando, sob o manto da igreja, pessoas eram queimadas sob acusação de bruxaria. Através de suas pesquisas concluiu que, na maioria das vezes a perseguição era política, os acusados nunca haviam se envolvido com satanismo. Alguns casos pareciam típicos de doentes mentais, que mais deveriam ir para o sanatório que para fogueira.
Um caso, contudo, chamou-lhe a atenção: Catarina, uma mulher do século XVII, queimada num povoado do interior, conhecida como a maior das feiticeiras. As lendas que dela se contavam perduravam até os dias atuais, sobre seu poder e maldade. Morrera queimada, jurando vingança.
Cristina viajara para a cidade que se desenvolvera perto do antigo povoado onde a bruxa teve seu fim. Verificou que ,apesar dos séculos, as pessoas conheciam histórias sobre ela, havendo inclusive aqueles que jurassem ter visto reunião de demônios comandados por Catarina em um vale próximo. Cristina ia assim juntando material para uma nova tese, sobre o imaginário popular.
Algumas coincidências, porém, logo chamaram-lhe a atenção. De tempos em tempos sumiam crianças na região, que nunca eram encontradas. Assim como começavam, os desaparecimentos terminavam. Catarina era considerada culpada, mesmo séculos após ter morrido. O fato é que nunca qualquer pista foi encontrada. Justamente após sua chegada na cidade, crianças começam a sumir, sem deixar vestígios. Havia mais de cinqüenta anos que aquilo não acontecia, portanto não poderia ser a mesma pessoa. Três garotos estavam desaparecidos. Não havia pista alguma, uma testemunha que fosse.
Cristina envolveu-se com as investigações. Sentia que, se desvenda-se aquele crime, poderia explicar a estranha influência que aquela lenda exercia sobre a população daquele lugar.
Passado algumas semanas nada de novo havia sido descoberto. Das outras crianças não mais foram vistas. O delegado local pensava até em pedir ajuda federal. Cristina não dormia direito, procurando, pela lógica, encontrar uma solução.
Um dia a socióloga aparece na delegacia. Não havia dormido a noite anterior. Apesar de cientista tinha uma intuição. Visivelmente alterada, pediu ao delegado que a acompanhasse com alguns policiais. Foram ao local onde, pelos relatos que descobrira, Catarina havia cumprido pena. Era um pequeno vale. Movida por uma força estranha, Cristina, com as mãos escava o sopé de um morro próximo. A terra estava fofa. Os pequenos ossos não demoraram a aparecer.
Ao ver tudo aquilo, o rosto de Cristina se transformou. À vista incrédula dos policiais, ela começava a gritar palavras incompreensíveis. Era como se duas almas lutassem por um só corpo. Suas feições iam, aos poucos, se transformando. Ela despiu-se até que, completamente nua começou a dançar freneticamente, num ritmo cada vez mais rápido, começou a levitar. De seus olhos, emanava o próprio mal. Cristina havia sacrificado aquelas crianças. Sem saber, seu corpo fora apossado por Catarina, que assim executava a sua vingança.

sábado, 4 de julho de 2009

Uma Última Visita

Eu não conhecia nada mais deprimente do que ficar sozinho em casa, na época de natal. Longe dos amigos, longe da família. Desde o acidente ninguém mais aparecera, ninguém mais dera as caras. Nem mesmo uma árvore a piscar havia. A casa que eu amava estava largada, empoeirada, descuidada, só me causava tristeza. Minha filha, depois que se casou, pouco me visitara. Não gostava, sentia frio. Dizia que já sofrera o bastante, passando aqui anos de sua infância. Ninguém mais tinha interesse pela casa, apenas eu.

Como que só para me desmentir, a porta subitamente se abriu. Foi algo tão inesperado que fiquei estático por alguns segundos, mas logo reconheci o intruso. Era Pedro, o marido de minha filha. Onde ela estaria? Ele entrou, acendeu as luzes e, displicente, largou uma mala em cima do sofá. Com o impacto, rapidamente formou-se uma nuvem de poeira, flocos flutuantes brilhando em várias cores. Pedro tossiu e começou a ofegar. Ávido, procurou no bolso da calça a bombinha e levou-a à boca, aspirando várias vezes. Pudera, uma casa abandonada não é exatamente um lugar apropriado para um asmático. Mas então... O que ele estaria fazendo aqui?

Só podia ser! Tinha vindo atrás do dinheiro! Mas como descobrira? Eu nunca comentara sobre o cofre! Bem, se ele sabia que havia um cofre na casa, pelo menos não sabia onde fora instalado. Assim que melhorou, Pedro dirigiu-se a um lugar improvável, o quarto da bagunça — quase que um depósito.

Fui atrás dele sorrindo, vitorioso. Se Pedro achava que seria fácil botar as mãos no meu dinheiro, estava completamente enganado. E por que a minha filha não tinha vindo junto? Não podia ser assim! E se ele escondesse uma parte, ou até mesmo tudo, e depois dissesse que nada havia? Não, não, aquilo não estava certo!

Depois de procurar durante algum tempo em um dos armários, Pedro soltou um suspiro aliviado. Tinha achado uma boneca. A boneca de pano que minha filha mais gostava, aquela que não largava quando criança. Estava velha, é evidente, mas ainda bem conservada. Minha filha fora sempre uma menina cuidadosa. Natural, puxara ao pai.

Eufórico, Pedro foi até a sala e tirou da mala um computador. Colocou-o em cima da mesa, conectou alguns fios à parede e depois ligou a máquina. Eu sabia o que ele queria fazer. Nos últimos anos, usara a Internet todos os finais de semana para ver e falar com minha filha. Ela não me visitava, era o melhor que eu podia arrumar.

Sentia-me envergonhado. Duvidara de Pedro sem razão e não podia sequer pedir desculpas. Após o ruído característico, Pedro conseguiu a conexão e logo minha filha apareceu na tela, sua voz de menina a ecoar pela sala. Uma onda de pura felicidade transpassou-me, arrebatadora. Eu chegara mesmo a pensar que jamais a veria de novo! Ela estava um pouco mais gorda, rosada, os cabelos presos num rabo de cavalo. Também achei a imagem maior e mais definida do que a que eu estava acostumado. Seria apenas uma falsa impressão?

Depois de falar sobre viagens e saudades, Pedro mostrou a boneca. Minha filha sorriu, docemente. Como quando ganhava um presente. E então sumiu da tela, para logo depois voltar. Desta vez carregava um bebê. Por um segundo a emoção me dominou. No instante seguinte, gritei como jamais havia gritado, surpreso, atônito, apavorado. Pobre de Pedro, se pudesse me ouvir: o susto o teria matado.

Um espírito brilhante entrara pela janela e vinha flutuando devagar em minha direção, envolto por uma luz difusa. Usava um hábito de monge, mas ainda assim inspirava medo. Não era para menos, desde que eu morrera jamais vira outro espírito! Ninguém aparecera para me receber, ninguém viera me buscar. E em breve faria um ano! O espírito se aproximou e estremeci quando pude olhar nos seus olhos. Cheguei mesmo a pensar em fugir, mas ele baixou a cabeça num cumprimento, o que muito me acalmou. Depois olhou para a tela, curioso.

— É a minha filha — expliquei, aliviado.

— Encantadora — devolveu, sereno.

— E a criança que ela está carregando é, provavelmente, minha primeira neta — orgulhei-me.

— Exatamente por isto estou aqui.

— Como assim?

— Agora que você já viu sua neta, chegou a hora de partirmos.

Partirmos? Mas para onde? O que ele queria dizer com isto? E quem era ele, afinal?

— Você é um anjo? — perguntei de repente, emocionado.

O espírito abriu um largo e doce sorriso. Seus dentes eram perfeitos, seus olhos negros brilhavam.

— Podemos dizer que sim — respondeu, misterioso.

— E vou ter que deixar minha casa?

— Não é mais sua casa, foi vendida. Mas não fique triste, você teve e terá muitas outras.

Vendida? A minha casa? Vendida para quem? Pensei em perguntar, mas senti que já não era tão importante. Eu tinha dúvidas mais urgentes.

— Vamos sair flutuando?

— Claro! Você não gostaria de planar pelas ruas? Vistas do astral, as luzes de natal são ainda mais bonitas!

Sorri para ele, pela primeira vez. Quem não gostaria, depois de quase um ano trancado em casa? Mesmo assim, continuava inseguro.

— Você ficará comigo?

— O quanto for preciso — tranqüilizou-me.

Então um pensamento me assaltou, violento. Cheguei a tremer de excitação, ante a simples possibilidade.

— Quão longe poderei ir?

— Mais do que consegue agora imaginar.

— E estamos com pressa?

Por um longo instante achei que o anjo fosse dizer que sim, que não haveria tempo. Mas sua expressão desanuviou-se e ele tornou a sorrir, cúmplice, complacente.

— Não, não estamos com nenhuma pressa.

Virei-me então para a tela do computador e disse, como se ela pudesse me ouvir:

— Espere por mim, filha. Já estou chegando.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Bárbie Assassina

Uma menina de uma certa terra que sonhava em ter uma Barbie e que cresceu sempre pedindo por uma. Um dia ganhou a tão preciosa boneca, e começou a tratá-la como se fosse viva. Botava a Barbie pra dormir, dormia ao lado dela, fazia carinho, conversava, dava banho, tratava-a como se fosse filha.
Numa noite, quando foi dormir, a boneca começou a se mexer. Ela pegou uma faca e esfaqueou a menina. Ouvindo os gritos da menina morrendo, a mãe subiu para o quarto e, vendo-a morta, ficou desesperada. A Barbie nem deixou que ela reagisse e já foi atacando também a mãe da sua dona, que caiu na porta do quarto. Em seguida, a Barbie desceu para a cozinha e esfaqueou também a empregada, que fazia tranquilamente os seus ultimos trabalhos do dia.
Quando o pai da menina chegou em casa do trabalho, e viu a Barbie se mexendo, correu, pegou imediatamente álcool e fósforo e queimou a boneca, ela continuou se mexendo, e tentando atacá-lo, e ele colocava mais fogo e mais fogo e mais fogo até que a boneca finalmente caiu no chão.
No dia seguinte todos comentavam sobre o ocorrido. Uma pessoa amiga da familia disse que conseguia ver os corpos da menina, e da sua mãe e empregada mortos, e a "boneca assassina" queimada no chão, toda desfeita. Uma outra amiga, que ouviu a sua historia, sempre costuma (e até hoje) dizer: não se deve dar ozadia a bonecos, nunca fique sozinho com eles e nunca, jamais ame-os ou trate-os como se fossem seres vivos. Nenhum deles é confiável.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O Espelho

Nancy Fieldman, uma garota bonita e inteligente, de origem humilde, trabalhava em uma mansão na Inglaterra, juntamente com sua mãe por volta do ano 1870.

Segundo a historia, Os senhor, dono da mansão onde Nancy e sua mãe trabalhavam era um homem com sérios problemas de personalidade, um "psicopata" sem escrúpulos, que tratava as duas muito mal, deixando para elas apenas as sobras de seus frequentes banquetes e um quarto frio onde as duas se acomodavam durante a noite, naquela mansão com inúmeros quartos quentes que ficavam trancados para o uso apenas dos hospedes e convidados.

Devido ao tratamento desumano e também a uma anemia profunda, a mãe de Nancy veio a falecer, deixando para sua filha seus únicos bens materiais, uma pequena boneca de pano e um espelho emoldurado em mármore, deixado por seu pai com o seguinte dizer: "Serei o reflexo de tua alma onde quer que esteja" (entalhado na parte inferior do espelho).

Nancy era uma garota tímida, porem muito sorridente, entretanto, com a morte de sua mãe, Nancy entrou em uma forte depressão e queria abandonar a mansão.

O dono da mansão, sabendo de suas intenções, trancou a garota em um porão, de onde ela não podia sair, e o que era pior, a garota passou a ser violentada todas as noites naquele lugar.

Certo dia, cansada desse sofrimento e sentindo muitas dores, Nancy tentou reagir as agressões a que era submetida, dando um golpe com sua boneca de pano na cara do homem. O dono da mansão, muito revoltado com a garota, esbofeteou-a e a asfixiou com a própria boneca.

A garota derrubou o espelho ao se debater e ainda sem ar disse suas ultimas palavras: "Serei o reflexo de tua alma onde quer que esteja"...

Semanas depois o homem foi encontrado com os cabelos completamente grisalhos, morto sem explicação com um pedaço do espelho entre as mãos.

Ate hoje a morte desse homem tem sido um mistério, dizem que muitas pessoas morreram ou ficaram loucas após se apossarem daquele pedaço de espelho, muitos dizem ver o reflexo da pequena Nancy.

domingo, 28 de junho de 2009

Tortura

Do lado de fora da velha casa podia-se ouvir gritos estridentes de pura dor, os quais ecoavam solitários pela escuridão da noite, se confundindo apenas com os outros ruídos noturnos característicos da floresta. Era uma casa em ruínas, completamente afastada da civilização e escondida no meio de uma mata selvagem e de difícil acesso. E dentro dela, o desespero, agonia e sofrimento materializavam-se em forma de horror em seu estado mais absoluto e real. Um homem jovem, alto e forte, escondendo sua identidade sob uma máscara, torturava uma também jovem mulher, amarrada impiedosamente e pendurada pelos braços ao frágil teto da cabana.

Seu corpo estava coberto por sangue e grandes hematomas e feridas eram facilmente visíveis. Diversos instrumentos eram utilizados para machucar o corpo da infeliz mulher, desde chicotes a armas cortantes, transformando aquela cena de ultra violência em um macabro e gratuito espetáculo de pura insanidade.

Passados alguns minutos de extrema selvageria, digno do instinto maléfico do ser humano, e um pouco antes da torturada mulher perder os sentidos ou mesmo sua vida se esvair completamente, um vulto de grande estatura repentinamente apareceu atrás do agressor e, munido de um machado afiadíssimo, arrancou-lhe a cabeça em um só golpe, arremessando-a longe e jorrando sangue para todos os lados. O corpo sem cabeça do agressor estremeceu por breves instantes e desabou violentamente no chão.

A mulher, ainda levemente consciente, conseguiu abrir os olhos com dificuldade e visualizou seu agressor morto ao chão e antes mesmo de esboçar alguma pequena reação de alívio, ela olhou para o outro homem que a salvou e este, com um semblante sarcástico no rosto, enfiou-lhe o machado no centro da cabeça de cima para baixo com tanta força que chegou até a atingir o tórax, espalhando mais sangue e pedaços de cérebro ao redor. Satisfeito, o novo assassino consumou sua vingança, eliminando dolorosamente sua esposa e o amante ao mesmo tempo.

sábado, 27 de junho de 2009

Cinofobia

A noite estava clara. A lua convidou-o a sair e andar por aquelas ruas escuras e silenciosas. Quem sabe encontraria alguém que aceitara também o convite da lua e se encontrariam. Talvez outra pessoa solitária como ele.

Ao longe, ele divisou três enormes cães. Um deles notou também sua presença e veio correndo ao seu encontro. Ele esgueirou-se na parede e virou a primeira viela que encontrou. Quem sabe, os cães não o notassem ali.

Assim que o olhar raivoso de um dos cães o percebeu ali, ele notou então que a viela era sem saída. Depois, surgiram ameaçadores os outros dois cães, rosnando com raiva, como se ele fosse um intruso naquele território que era só deles.

No céu, a mortalha negra de uma nuvem que acortinava a lua, foi-se afastando, exalando toda prata daquela lua cheia. No clarão, ele pode distinguir melhor os três cães que avançavam em sua direção.

Não correu. Não esboçou qualquer temor. Esperou que os cães se aproximassem e um a um foi destroçando com suas garras e dentes. Espalhando suas carnes e sangue por toda viela.

Se pudesse compor qualquer pensamento racional naquele momento, ele talvez reconhecesse que os cães tiveram o que mereciam, pois haviam invadido seu território. Mas, naquele momento, sob aquela lua airosa, ele não podia compor qualquer pensamento racional.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Maldição Do Lobisomem

Vivia no Sertão Nordestino, um homem chamado Francisco. Humilde, pobre, com uma mulher e seus filhos para sustentar.
Um dia, o coronel Tobias, seu patrão, tomou-lhe o pouco de terra que ainda tinha por causa de dívidas. A coisa funcionava mais ou menos assim: Francisco trabalhava em regime de semi-escravidão para Tobias.. Em troca, o pobre homem recebia um punhado de terras mais o resto da comida da Casa Grande que era dividida por todos os capangas, peões, etc.
O que era consumido a mais por Francisco, como vestimentas e um pouco mais de alimentos para sua família se transformava em dívidas que se acumularam ao ponto de Tobias tomar todos os bens do famigerado homem.
A gota d'agua para a expulsão de Francisco da fazenda foi a descoberta de pequenos furtos de alimentos. Nada que um homem desesperado para alimentar seus filhos não faria.
Francisco perdeu tudo... Até a Fé. E num ato de desespero foi procurar algum milagre na mansão de Zé do Demo.
Zé do Demo recebeu esse apelido do povo do vilarejo quando previu um dilúvio que acabaria com toda a plantação daquele sertão árido.
Desde aquela visita tudo na vida de Francisco mudou. Ele conseguiu uma casa pra morar e um punhado de terras para plantar.
Porém naquelas terras nada florescia. Francisco não tinha mais compaixão com sua família e a violência passou a imperar dentro daquele casebre.
Coincidentemente, toda noite de lua cheia, o vilarejo passou a ser aterrorizado por um ser peludo, com garras afiadíssimas, meio homem, meio fera, chamado de... Lobisomem!
A lenda correu todo o sertão. Todos ouviram falar sobre o homem que vendeu sua alma ao diabo em troca de um punhado de terras e sofreu uma maldição, aterrorizando o seu vilarejo em busca de sangue, com pele de lobo.
O vilarejo ficou praticamente abandonado. Os poucos sobreviventes tentavam fugir. Muitos não tinham para onde ir.
Uma criança foi deixada para trás por pais desesperados. Chorava no meio da rua. Sua casa foi destruída. Ela se sentia só. Era noite e a lua estava cheia.
Subitamente, o garoto ergue os olhos embebidos de lágrimas e enxerga uma figura horripilante e sedenta vindo por trás da penumbra!
O menino não pode fazer mais nada a não ser fechar os olhos e esperar que sua morte seja mais rápida possível.
Porém algo inexplicável acontece. O monstro para frente ao garoto indefeso.
Grita muito, rosna, mas não ataca. Parece que uma luta é travada, por horas e horas, dentro da fera. Então, ao amanhecer... a criança continua encolhida. Não há mais lágrimas em seus olhos. O corpo nu de Francisco está ao seu lado ajoelhado e cabisbaixo. A poeira baixou.
Desde aquele dia, no qual o lobisomem se deparou pela primeira vez com um ser humano indefeso que não esboçou reação nenhuma, Francisco recuperou a sua humanidade e a sua fé.
O vilarejo fantasma nunca mais voltou a ser o mesmo. Francisco recuperou o que restava de sua família e partiu em busca de uma nova vida, pregando, por onde passava, a palavra de Deus.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A Morte Bate A Porta

Numa certa noite de interior, em meio a uma roda com fogueira, muito frio e histórias de horror, um certo garoto lança um desafio ao amigo.

– Eu dúvido que o Marcio entre no cemitério a meia noite.

Marcio então respondeu ao amigo:

– Aceito o desafio e não só entro como ainda trago algo para comprovar que estive lá.

Então a meia noite ambos foram ao portão do cemitério, o amigo para ver com seus próprios olhos que Marcio entraria. Marcio entra, e o amigo assustado com a escuridão corre de volta para casa e fica lá com os amigos esperando o retorno de Marcio.

Marcio com muito medo, começa a ouvir passos e vozes, olha para traz e vê somente uma enorme escuridão, com muito medo, arranca logo uma cruz do cemitério e corre desesperado de volta para casa... ao sair do cemitério ao longe escuta gritos de desespero.

Chegando em meio ao amigos, entra em casa sorridente e mostrando a todos sua coragem, com aquela cruz na mão, prova ao amigo que não tem medo de mortos. Os dois ficam rindo da aposta... quando adentra em casa um dos amigos dizendo:

– Marcio, o João Alves está ai fora te procurando... ele veio buscar algo dele que está com você.

Marcio olha desesperado para o amigo e diz:

– Mas eu não conheço nenhum João Alves.

No mesmo instante os dois olham para a cruz e para espanto dos dois, na lápide havia o nome... "João Alves".

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Fã

Conta-se que ha mais ou menos uns 9 anos atrás, houve um show da banda Legião Urbana em São Paulo, e que uma garota que morava na Zona Leste da cidade, mais precisamente no bairro da Penha, era muito fã da banda, e nunca tinha ido a um show deles. No dia do show ela combinou com seu namorado e alguns amigos de se encontrarem em frente ao cemitério do bairro, como faziam sempre que saíam. Pouco antes do show, se encontraram no local e foram para o show. No meio do evento, a garota sentiu-se mal e foi ao banheiro, quando voltou encontrou seu namorado aos beijos com sua amiga. Abalada com o fato, ela saiu no meio do show e foi para casa. Bem em frente ao cemitério do bairro onde costumavam se encontrar, ela resolve parar, e tomar uma atitude pouco inteligente. Ela se atirou contra um ônibus que vinha em alta velocidade na avenida que passa em frente ao cemitério, os mais velhos do bairro contam que ela morreu brutalmente esmagada entre as rodas do ônibus. Pelo fato dela ter cometido suicídio, dizem que seu espírito vaga até hoje em frente ao cemitério toda sexta feira entre 23:00 e 23:30 devido ao horário de sua morte. Bom, gente, essa é a história, mas o que me fez acreditar nela foi exatamente o fato de eu querer comprovar a história. Como hoje eu moro na Zona Leste de São Paulo e perto do bairro da Penha, eu fui, em um dia desses passar a noite no apartamento de um amigo meu que mora praticamente em frente ao cemitério onde deu origem a historia. Exatamente às 23:00, saímos do apartamento e fomos para frente do cemitério, quando começamos a andar na calçada de frente pro cemitério vimos uma garota sentada na guia da calçada pouco mais a frente de nós. Ela estava abraçada aos seus joelhos quando levantou a cabeça, nos olhou e nos pediu um cigarro. Eu cedi um cigarro a ela e já tendo a certeza de que aquela historia não passava de besteira, mas ainda com um pouco de cautela, eu quis conversar com ela e perguntei se ela estava sozinha. Ela me respondeu que sim, mas estava esperando o namorado. Com um pouco de pressa eu me despedi dela e, seguimos o nosso caminho, logo depois que eu me virei e comecei a ir embora, ela começou a cantar uma musica da Legião Urbana, foi então que nos viramos para olhar a garota cantar, então levamos um susto, a avenida estava deserta sem ninguém e nenhum carro a vista e mesmo assim a voz da garota continuava a cantar sempre o mesmo refrão:

“ É PRECISO AMAR AS PESSOAS COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ... ”

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Eu, Vampiro?

Aquela poderia ser uma manhã qualquer não fosse o fato de a campainha tocar às 8 horas e tirar o conde da cama. Acostumado a dormir até mais tarde, ele teve de colocar seu roupão de cetim azul para atender à porta. Uma nesga de luz solar penetrou nos seus olhos, ofuscando sua visão. Mesmo assim, ele pode distinguir o vulto de várias pessoas que se acotovelavam junto à soleira da porta. Vizinhos conhecidos de vista e estranhos, alguns com archotes acesos nas mãos, incoerentemente com a vasta luz solar da manhã. À frente da turba assanhada, ele reconheceu o dr. Martim, delegado titular da cidadezinha de Retiro Santo.
– Conde Milos, desculpe o importúnio a estas horas... – disse sorrindo o delegado.
– Importúnio algum, dr. Martim! – sorriu gentilmente o conde – Queira entrar e fique à vontade.
Alguns dos que acompanhavam o delegado manifestaram sua intenção de também adentrar na casa, mas o delegado permitiu apenas que dois deles o fizessem. Um deles, o conde já havia visto, era o Juriti, empregado da vendinha onde o conde costumava comprar seus charutos. Ele trazia nas mãos uma estaca pontiaguda. O outro – um mulato magro de olhos esbugalhados de espanto – segurava nervosamente alguma coisa embrulhada num pano de saco de aliagem.
– Mas a que devo a visita? – perguntou o conde, oferecendo assento numa das poltronas das sala.
– Infelizmente, conde, minha visita não é de cortesia. Eu gostaria que o senhor me acompanhasse até a delegacia para responder a umas perguntas...
– Infelizmente não posso fazê-lo, pois não costumo sair à luz do dia – respondeu o conde.
– Viu só? Viu só? – gritou o mulato assustado, cutucando o delegado.
– Cuidado com ele! – advertiu o Juriti.
O delegado olhou contrariado para seus dois acompanhantes e continuou:
– Bem, assim sendo, acho que posso adiantar as investigações aqui mesmo.
– Pergunta pra ele por que ele não pode sair à luz do dia! – cutucou o Juriti.
O delegado se impacientou:
– Ou vocês me deixam conduzir as diligências ou eu boto os dois para fora daqui!
Depois, voltou a sorrir para o conde:
– Mas, à propósito: o que o impede de sair à luz do dia?
– Como o senhor pode ver, delegado, eu sou completamente albino, os raios do sol fazem mal à minha pele. Além do mais tenho propensão a câncer de pele... – explicou o conde.
– Claro, claro! É compreensível. Mas vamos direto ao assunto: o senhor conheceu Carla Martina, dançarina do "Exciting nights"?
– Não estou ligando o nome à pessoa... – considerou o conde.
– O senhor chupou ela! – gritou o mulato nervosamente assustado.
O conde corou visivelmente as maçãs do seu rosto lívido e sorriu sem graça para o delegado.
– Doutor, eu me reservo o direito de não comentar meus relacionamentos íntimos... – disse ele.
– O senhor me desculpe, conde, cidade pequena, o senhor sabe como é... Esse pessoal é supersticioso demais... Estão acusando o senhor...
– O senhor é vampiro! – adiantou-se o Juriti erguendo a estaca de sua mão.
– Perdão, delegado, receio não ter entendido direito do que me acusam... – disse o conde.
– Eu boto vocês dois para fora daqui já! – gritou o delegado para os dois acusadores – não vou tolerar mais interrupções!
– Mas explique-me melhor o que está acontecendo, doutor. Eu já fui várias vezes ao "Exciting Nights", mas não conheço a pessoa a quem o senhor se referiu...
– Carla Martina. Foi encontrada morta nesta madrugada num terreno baldio atrás do cartório. Tinha dois furos profundos na garganta e estava totalmente sem sangue...
– Manda ele arreganhar os dentes, manda! – sussurou o mulato.
O conde ouviu isso e abriu uma sonora gargalhada. Não era preciso ser bom observador para ver que o conde tinha os dentes perfeitamente normais.
– Tá se rindo? – disse o mulato, levantando-se do sofá e desembrulhando o que trazia nas mãos pois eu tenho uma surpresinha para o senhor.
Dizendo isso, ele avançou para cima do conde, adiantando uma enorme cruz de madeira.
Refeito do susto pela ação intempestiva do rapaz, o conde comentou:
– Obrigado, mas não estou interessado em mais uma cruz. Eu já tenho várias na minha vida – E, com as mãos, ele mostrou as paredes da casa onde se destacavam vários crucifixos ricamente trabalhados, evidenciando a mania do conde de colecionar cruzes e crucifixos.
– Pra mim já chega! – gritou o delegado, levantando-se de supetão do sofá. – Vocês estão me fazendo passar um ridículo aqui...
Dizendo isso, ele abriu a porta e colocou os dois capiaus para fora de lá. Com gestos das mãos dispensou os curiosos que aguardavam lá fora e fechou a porta, ficando a sós com o conde.
– Até agora, eu não entendi direito qual a acusação que pesa sobre mim... – comentou o conde.
– Essa gente parece não ter mais o que fazer! – disse o delegado. – Eles cismaram que tem um vampiro atacando na cidade. E como o senhor é novo por aqui, o senhor sabe...
O conde riu às gargalhadas:
– A queixa devia vir dos meus empregados. O que eu sugo do sangue dos coitados, fazendo-os trabalhar muitas vezes além do horário. Mas eles são gentilmente remunerados!
– Ainda bem que o senhor leva tudo na esportiva! Eu estou constrangido por ter me abalado até aqui por uma acusação dessas. – sorriu apologético o delegado.
– Já que está aqui, doutor, permita-me oferecer-lhe um cálice de vinho da minha adega. – propôs o conde, levantando-se.
Com isso, ele conduziu o delegado até o porão onde apresentou sua adega farta de toda qualidade de vinhos.
– Desde que tomei posse do cargo nesta cidadezinha – comentou o dr. Martim – eu vi que o pessoal daqui era muito simples e crédulo demais... Foi em meados de...
– 1960? 1950? – perguntou o conde.
– Não! Eu não sou tão velho assim... Foi em 1978.
– Eu me referia à safra do vinho. – sorriu o conde.
– Ah! Desculpe-me... Se tiver um tinto da safra de 52 eu agradeceria.
– Tinto... aqui está! Uma boa safra essa, sem dúvidas – disse o conde pegando uma garrafa – pode ficar com ela. Eu aprecio mais o vinho branco.
Dizendo isso, o conde acompanhou até a porta sua visita inesperada que agradeceu e saiu com a garrafa de vinho debaixo do braço.
Depois, o conde dirigiu-se ao seu quarto, tirou o roupão e voltou a deitar-se na cama
"Admiro um bom apreciador de vinhos" – pensou ele.
Como havia perdido o sono, pegou um livro sobre vampirismo e pôs-se a ler. Depois, levantou-se, foi até a cozinha e abriu a geladeira. Sorriu, lembrando-se do ocorrido daquela manhã.
– Eu, vampiro... Esse pessoal é mesmo ascético demais. – disse para si mesmo – Mas até que seria bom se eu fosse mesmo um vampiro.
Com isso, ele pegou da geladeira uma bombinha de sucção com dois tubinhos e agulhas nas pontas.
– Seria bem mais prático, com toda certeza. – sorriu ele, enquanto lambia das agulhas da bombinha um resto de sangue que ainda não havia coagulado.

domingo, 21 de junho de 2009

O Amuleto de Hades

Já era meia-noite quando o casal de namorados Lidya e Erick, pulam o muro do cemitério, a noite é fria e a grande lua cheia brilha intensamente no energizado céu estrelado.

Olhando para o céu é possível ver algumas constelações, mas o casal não queria ir até o cemitério apenas para admirar estrelas ou qualquer outra coisa mágica que jazia naquela noite.

Seus planos eram outros...

Lidya, uma garota de 16 anos, branca, longos cabelos loiros e anelados, nesta noite ela usa botas negras com adereços de metal, uma curta saia negra que permite-se contemplar tuas belas e torneadas pernas e coxas. Ela também usa uma camisa negra com um pentagrama estampado na frente, um bracelete de couro em cada braço com adereços de metal e lantejoulas. Em seus dedos vários anéis de aspecto sinistros e horrendos.

Em sua bela e delicada face um brilho de poder e desejo.

Um lindo brilho rosa dava a seus lábios um tom feminino e sensual.

Em seus lindos olhos verdes jazia um brilho provocante e ao mesmo tempo melancólico.

Ela também usava sombra, deixando sua expressão sombria, mas sem perder a delicadeza e o seu charme.

O brilho da grande lua cheia dava a Lidya um brilho especial, é como se sua beleza brilhasse intensamente entre o céu e a terra.

Já seu namorado Erick, um garoto de 19 anos, branco, longos cabelos negros e lisos, nesta noite ele usa botas negras com adereços de metal, uma calça de couro negra que permitia ver nitidamente o contorno de seus músculos das pernas e das coxas. Ele também usava uma camisa negra com um pentagrama estampado na frente, um bracelete de couro com adereços de metal em cada braço, e em suas mãos uma luva negra lhe ocultava as mãos.

Em sua face refletia uma expressão calma e delicada.

Seus lábios levemente brilhantes e de uma cor avermelhada e sensual.

Seus olhos parecem ser o leito de um lago que refletem o brilho da energizada lua cheia em meio às estrelas brilhantes no céu. Para completar seu visual sombrio e sensual, ele usa um lenço negro em sua cabeça, no lenço há vários desenhos de caveiras.

Erick ainda carregava em suas costas uma mochila, esta também da cor negra.

Então o casal que transparecia todo o seu amor e paixão começou a se beijar. Mas aquilo era mais que um beijo, eles estavam mais unidos.

Era como se seus olhos fossem as janelas de suas almas, e suas bocas fossem as portas, e assim naqueles calorosos e apaixonado beijos era como se suas almas se encontrassem e desfrutassem junto este amor energizado de prazer e calor.

Após um longo e prazeroso beijo, eles decidem por fim limitarem-se a seus afazeres; realizar uma espécie de ritual de magia negra, para evocar espíritos diabólicos de demônios e espectros.

Esvaziando a mochila que Erick carregava, eles preparam o cenário para o ritual; um longo pano preto também com a figura do penta grama estampado é forrado sobre o chão, nas quatro pontas do pano são colocadas 4 velas, 2 negras e 2 vermelhas.

Após acenderem as quatro velas, eles começam a ler um livro, grosso, pesado, de capa preta e a mesma imagem do penta grama na capa.

Lidya e Erick lendo o livro juntos e em voz alta, eles diziam: “Ó senhor do vale das sombras, espectro guardião do mundo das trevas, vós que sois Minos, um dos três titãs do império de sua majestade Hades Samma. Nós vos envocamos nesta hora morta, pois precisamos de vossa majestade.”

Após alguns breves segundos de total silêncio, eis que emerge-se das trevas um ser sombrio, envolvido em um forte cheiro de enxofre, a face submersa em trevas e as órbitas vermelhas e de um diabólico e forte brilho.

Que era aquilo senão a própria imagem do demônio?!

Os jovens ficaram trêmulos e completamente tomado pelo horror, eles estavam a mercê daquele ser pavoroso e sombrio.

– Minos!? Proferiu por fim Erick com um certo espanto e medo.

Por fim aquele ser diabólico e sobretudo mistérioso disse: – Sim. Eu sou Minos, um dos três titãs do mundo das trevas. Eu fui guiado até aqui através de teus chamados, então digam o que vocês querem de mim!

Após ouvir aquela estridente e majestosa voz de Minos, Lidya levantou-se e disse: – Nós te envocamos pois só você pode nós dar o amuleto do mundo das trevas, conhecido como “amuleto de Hades”, para que assim possamos ter nossos desejos realizados.

– Então é isso... – Começou Minos enquanto olhava fixamente os dois jovens, que agora estavam sentados meio aos túmulos. Está bem, pegue! – Disse Minos jogando um punhal de uma cor roxa e brilhante nas mãos de Lidya. Esta o pegou, empunhando-o firmimente.

– O que é isso? Um punhal? – Perguntou Lidya muito surpresa.

– Para que ê esse punhal? – Perguntou também Erick muito surpreso.

Então Minos respondeu: – Em troca do poderoso amuleto de Hades é preciso ser realizado um sacrifício humano. Esta é a regra imposta por vossa majestade Hades Samma.

– Mas o quê?! um sacrifício?! Eu não vou matar ninguém. – Protestou severamente Erick, levantando e encarando Minos.

Este lhe respondeu friamente: – Acalme-se. Você não vai precisar matar ninguém, sua namorada o fará. Não é Lidya?

– Sim. – Respondeu Lidya com um tom de voz profundo e um olhar diabólico e em seguida endagada do punhal que recebera de Minos, a garota começou a perfurar Erick pela retaguarda, até que este tombou-se sobre o chão, já morto.

Parada com o punhal ainda endagado e pingando o sangue ainda quente de Erick, os seus olhos que haviam sido tomados por um vermelho malígno, agora voltaram ao normal e se encheram de lágrimas.

– Meu Deus! O que é que eu fiz? Eu não queria matar o Erick, eu o amo tanto... Minos seu desgraçado, foi você que me fez matá-lo? Não foi? – Perguntou aos gritos e choros Lidya.

– Eu não enganei vocês seus tolos, era preciso realmente um sacrifício humano em troca do amuleto de Hades. Então aqui está. – Disse Minos e depois lhe entregou o amuleto de Hades.

Um amuleto de uma cor roxa e brilhante, com uma face estampada semelhante a de um dragão, e escrito “YOURS EVER”, que significa “ETERNAMENTE SUA”.

– Mas de que me adianta ter este amuleto se não tenho mais aquele que eu tanto amo que é o Erick? – Perguntou Lidya profundamente magoada e triste, enquanto segurava o corpo ensanguentado de Erick em seus braços.

Já virado de costa para a Lidya e se preparando para retornar ao mundo das trevas, Minos disse, num tom de voz calmo e profundo, quase sussurrando: – Lembre-se, este é o amuleto de Hades, que foi feito com as sapuris, o diamante do mundo das trevas e têm o poder de realizar desejos a seu possuidor, assim sendo ele também pode devolver a vida aos mortos.

Noite Infernal

Isto se passou há 12 anos, tinha eu 7 anos. Eu era um garoto rebelde, e meu pai já não sabia o que fazer para me obrigar a modificar.

Minha relação com ele também não era das melhores, de maneira que houve um dia, após uma discussão particularmente violenta, eu saí de casa determinado a não voltar (tinha 7 anos).

Isto passou-se por volta das 17h e 30m. Saí de casa e fui virado a um pinhal não muito longe de minha casa. Não dei por conta de escurecer, mas é certo que de repente me vi rodeado de escuridão. Para onde quer que eu olhe só via árvores, arbustos e mato. Comecei a ficar com medo, e foi então que tudo começou...

Comecei a ouvir uns gemidos, seguidos de barulhos de passos. Reuni a pouca coragem que restava e gritei:

– Quem está aí?

A única resposta que obtive foi uma gargalhada de gelar o sangue. Comecei a correr, a correr, cada vez mais depressa, sem destino... Pouco me importava para onde ia, só queria sair dali... Quando comecei a avistar uma claridade azul, cada vez mais forte á medida que me aproximava dela... E foi então que vi... Por entre duas árvores retorcidas, vi o que me pareceu uma porta, uma espécie de portal, delineado a azul, uma luz intensa.

Peguei numa pedra, e atirei-a de encontro á tal abertura, mas a pedra se entrou, não tornou a sair. Não ouvi o barulho da pedra a cair do lado de lá, de maneira a que deduzo que terá tido outro fim. Se eu estava assustado, com isto entrei em pânico, mas não conseguia arredar o pé dali.

Comecei a ouvir barulhos, restolhadas de folhas na minha direção, de maneira a que me escondi atrás de um arbusto. Começaram a aparecer vultos de todos os lados, concentrando-se todos em frente á "porta". E foi então que senti uma dor forte na nuca, que me fez perder os sentidos... No dia seguinte, acordo com o meu pai a olhar para mim.

– Estás bem? – disse-me ele, e pegou em mim e levou-me para fora dali. Nunca soube o que realmente me aconteceu, nem o que tinha presenciado na noite anterior, mas certo é que, além de 17 pontos na cabeça, nunca mais tornei a entrar naquele sítio, e de há dois anos para cá, já desapareceram duas pessoas naquele pinhal, tendo sido uma delas encontrada morta, completamente desfigurada.

O que se esconde por detrás daquelas árvores? Que segredo encerra aquele pinhal? Vou terminar o meu relato com uma frase conhecida: "A verdade anda por aí". Por mim até pode andar. Mas não hei de ser eu a descobri-la.

sábado, 20 de junho de 2009

Vodú

Um garoto de mentalidade irrequieta, assim era Jairo. Seus 13 anos pareciam ter sido dedicados a caça de problemas. Na vizinhança, na escola, todos o conheciam e ao pressentirem sua presença preparavam-se: algo com certeza ia ocorrer. Uma característica, no entanto, contrastava com a grande atividade mostrada pelo garoto: era fanático por livros, na linguagem dos amigos, um "rato" de biblioteca. Realmente era capaz de ficar horas folheando velhos manuais de reconhecimento de borboletas, enormes atlas antigos ou qualquer coisa que chama-se sua atenção. Era um verdadeiro alívio para os pais saberem que Jairo havia ido para biblioteca.
O que ninguém havia percebido, no entanto, é que muitas de suas idéias com as piores conseqüências havia saído justamente daquele amontoado de saber. Chegara a montar um para-raio improvisado no barracão do quintal, utilizando velhas pontas de ferro. E, por incrível que possa parecer, o projeto funcionou. Isto é, ao menos metade, pois Jairo esquecera o aterramento. Havia sido pura sorte que durante a tempestade, alguns dias depois não houvesse alguém no local, literalmente destruído.
Agora Jairo tinha achado algo mais interessante, que fugia de qualquer ciência: um livro, na verdade um maço de folhas a cerca do vudú caribenho. Imergiu naquele mundo de zumbis e bonecos que representavam pessoas. Fantasiou a possibilidade de ser realmente verdade. Não cogitou por muito tempo; partiu para a prática.
Hábil, costurou dois bonecos. Conforme o livro os mesmos deveriam ter algo da pessoa a quem representariam. Conseguiu uma mecha de cabelo da irmã, enquanto ela dormia, e terminou o primeiro boneco. Enquanto dava os retoques no segundo boneco, pensava na segunda vítima. Distraído, acabou perfurando o dedo com a agulha e resolveu terminar por então. Testaria o boneco já pronto, e se não funcionasse, deixaria o risco de transformar sua mão em almofada para agulhas. Recitou as preces do livro e foi procurar Marina, a irmã mais velha que tanto implicava com ele. Escondido, pegou a enorme agulha e tocou a perna do boneco; a irmã imediatamente olhou para a própria perna, assustada. Jairo percebeu, e enfiou a agulha, fazendo com que a moça gritasse de dor. A mãe acudiu, mas não encontrava nada que pudesse causar tanta dor a filha. Jairo segurava-se para não rir. Na verdade ficara um tanto assustado, pois, realmente, não queria machucá-la. Mas a imaginar que poderia usar o segundo boneco para representar o namorado de Marina e trabalhar com os dois juntos, não conseguia conter o riso.
Saindo de seu esconderijo, sentiu uma forte fisgada no braço, como se um prego tivesse ali entrado. Nada havia. Na perna uma dor ainda mais forte. Era como se estivesse sendo dilacerado. Seu corpo começava a sacudir, sem controle. A mãe e a irmã ficaram estáticas, chocadas. Jairo consegue ainda raciocinar e corre para o quarto. Era o outro boneco. Tinha seu sangue, do ferimento da agulha. O boneco que sobrara, era ele. Mas não havia mais tempo. Nero, seu pastor alemão havia descoberto o brinquedo e o destroçava, sem perceber seu dono partindo-se a cada dentada.

Cães Negros

Cães Negros fazem parte do folclore da Inglaterra onde são conhecidos por Barghest que aparecem para anunciar a morte, e são descritos como "cães negros, enormes, com grandes olhos vermelhos e incandescentes, que têm a estranha capacidade de desaparecer em um estalar de dedos". São seres sobrenaturais que costumam ser vistos em encruzilhadas, e são geralmente ligados ao inferno. Entretanto, não é só na Inglaterra, que essa lenda persiste, e sim, em todo lugar não só como “cães negros”, e sim, como “Lobisomens” - que faz parte da categoria canina. Homens que viram lobos (cães), em noite de lua cheia.

Voltando ao assunto. “Cães Negros”, eles são relatados em vários cantos do mundo, como na África do Sul, em 1963: dois homens viram um animal parecido com um cachorro cruzar a frente do carro. Instantes depois surgiu um OVNI. Outro caso de encontro com esses seres misteriosos foi contado por Theodore Ebert, de Pottsville, na Pensilvânia, na década de 50 ele afirma que: “Certa noite quando eu ainda era garoto, caminhava com alguns amigos pela estrada Seven Star e um grande cão negro apareceu do nada e ficou entre mim e um amigo. Quando fui acariciá-lo, ele desapareceu. Desapareceu em um estalar de dedos”. Em outros casos eles nem sempre são vistos como seres do mal. Na Grã-Bretanha, suas lendas contam que os cães negros apareciam às pessoas nas estradas para conduzir as mesmas, como um espírito protetor; Já na Inglaterra, ele surgia para ameaçar as pessoas ou somente para passar um prenúncio de morte.

Em muitas culturas eles são vistos como guardiões dos portões universais, o que não é estranho já que ele protege os portões de sua casa. Em um exemplo, na Mitologia Grega, Cérbero ou Cerberus era um monstruoso cão de múltiplas cabeças e cobras ao redor do pescoço que guardava o portão do inferno, no reino subterrâneo de Hades, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem; Na “Divina Comedia”, Cérbero aparece no inferno dos gulosos, onde ele come as almas gulosas por toda eternidade com seu apetite descontrolado.

Antigamente associavam o cão a uma das formas do coisa-ruim. Na cultura popular é mais comum ouvir isso do que se imagina. O grande cantor e guitarrista de blues Robert Johnson tinha seu talento atribuído a um pacto feito com um homem vestido de preto (o demônio) que conheceu em uma encruzilhada, fato que ele conta em um de seus blues mais famosos, "Cross Road Blues", que talvez, por conseqüência deste ato o levou a escrever uma outra musica sinistra, que diz:

I’ve got to keep moving’...Ther’s a Hellhound on my trail.”

Traduzindo: “Tenho que prosseguir... Há um cão do inferno atrás de mim”.

Sinistro não?! Um dos relatos mais antigos sobre a aparição de um destes seres é contado no Annales Franorum Regnum de 856 dC. Neste manuscrito é relatado como uma repentina escuridão envolveu uma igreja durante uma missa e como um grande e misterioso cão negro que soltava faísca pelos olhos apareceu e se pôs a inspecionar o recinto, como se procurasse por alguém ou alguma coisa, até que, de modo súbito, desapareceu.

Outro caso que estranhamente se passou também em uma igreja, aconteceu em 4 de agosto de 1577, em Bongay, a cerca de Norwich, Inglaterra. O manuscrito conta que durante uma tempestade um cão negro entrou na igreja e disparou correndo no corredor. O sombrio animal foi responsável pela morte de dois cidadãos que se encontravam no local e ainda queimou um terceiro. Seriam eles "caçados" como o cantor de blues? Assim como todas as coisas sobrenaturais, não se sabe ao certo. Mesmo assim as aparições são evidentes.

Em Devorich na Inglaterra, numa noite de 1984 um homem em Devonshire, conta o que avistou: “Uma maldita coisa preta e enorme... freei bruscamente e ela, à luz dos faróis, diminuiu o passo e andou na direção do carro. Aqueles seus olhos, eu os vi claro feito o dia, eram verdes e vidrados; ela olhou bem na linha do capô, pois era daquela altura, e foi embora!... Como uma luz que se apaga. Não a vi mais. Não é real como um cachorro comum. Senti meus cabelos se eriçarem na nuca”. Com tudo, não se sabe ao certo o por quê de suas aparições. Na maioria das vezes eles aparecem para procurar algo ou alguém. Caçadores ou guardiões? Talvez os dois. Seja o que for, rezem para não o encontrarem, porque as conseqüências podem ser graves.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Noite No Hotel

Isso aconteceu com a minha família já faz algum tempo, e sempre que eu conto para alguém, nunca acreditam. Mas eu não ligo, porque eu estava lá e vi com os meus próprios olhos e sei que foi real.

Finalmente as férias tinham chegado, e o meu pai tinha planejado uma viajem de carro até o sul do país. Eu estava muito empolgado, pois nunca tinha ido para lá. Não íamos a um lugar específico, íamos visitar varias cidades e ficar um tempo em cada uma. Numa delas foi onde aconteceu a minha história.

Assim que chegamos na cidade (já era noite) fomos direto para o hotel nos registrar. Estávamos cansados e fomos para os quartos dormir. O meu pai e a minha mãe pegaram um quarto enquanto eu e o meu irmão pegamos outro. Assim que entramos no quarto o meu irmão desabou na cama e dormiu por cima das cobertas mesmo. Depois de ter me preparado para dormir, eu apaguei a luz e fui dormir.

Quando eram umas 2:00 da manhã eu acordei com o som de passos no quarto. A janela estava fechada, mas a cortina estava aberta deixando entrar a luz que iluminava a fachada do hotel. Eu estava olhando a parede, então virei a cabeça para ver se era o meu irmão andando pelo quarto, mas ele estava deitado por cima das cobertas ainda, dormindo.

Eu achei que o som podia ter vindo de fora e fechei os olhos para dormir de novo. Então ouvi o barulho de novo, estava vindo da direção do armário. Eu olhei e lá estava aquilo. Um bicho de 1,50m mais ou menos, muito magro e andava com as costas curvadas, dava para ver as vértebras através da pele dele. Eu fiquei totalmente apavorado e não conseguia me mexer. Ele estava andando na direção da cama do meu irmão, aquilo andava como se fosse uma galinha, com a cabeça virando pra cá e pra lá com movimentos rápidos. Era uma coisa grotesca!!!

Quando ele chegou no pé da cama do meu irmão, o bicho começou a olhar ele e foi esticando a mão para encostar nele. Ele segurou o pé do meu irmão e depois soltou. De repente deu um pulo e subiu na cama. Ai ele começou a andar na cama usando os braços também, como se fosse um cachorro, e parecia que estava cheirando o meu irmão. Eu estava totalmente paralisado de medo! Não sabia o que aquilo era ou o que podia fazer. Então ele ficou de pé de novo, na cama do meu irmão em cima dele, com um pé de cada lado dele. Eu senti que se eu não fizesse alguma coisa naquele momento alguma coisa de ruim podia acontecer.

Num pulo eu peguei a primeira coisa que eu encontrei (que foi o travesseiro) fiquei em pé na minha cama e soltei um berro e fiquei numa posição de ataque. O bicho olhou para mim e eu vi aqueles olhos brancos, sem pupilas nenhuma me olhando e aquela boca aberta como se ele estivesse rosnando com os dentes mostrando. Eu achei que ele ia me atacar, e foi ai que o meu irmão se virou e estendeu a mão até a lâmpada de cabeceira, acendendo a luz. E foi ai que a coisa mais estranha aconteceu. Quando a luz acendeu, o bicho simplesmente desapareceu. Eu olhei para o meu irmão ele estava branco.

Ele falou pra mim que estava acordado, mas não conseguia se mexer. Ele ouviu os passos, sentiu o bicho pegar o pé dele e pular na cama, sentiu o bicho fungando ele e o bafo com cheiro de carniça, mas era como se ele tivesse paralisado, nem conseguia gritar para me chamar, mas depois que eu gritei ele conseguiu se mexer para virar e acender a luz.

Nós reviramos o quarto todo e não achamos nada, nenhum lugar de onde aquilo podia ter saído ou pra onde poderia ter ido. Nós deixamos a luz acesa e não conseguimos dormir o resto da noite. No dia seguinte pedimos para o meu pai para irmos embora para outro hotel e depois de muito trabalho conseguimos convencer ele.

Eu não sei o que era aquilo e nunca mais tive nenhuma experiência sobrenatural, e nem quero ter. Mas vou ter pesadelos com aquela coisa pro resto da minha vida.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Corredor De Fogo

O inverno era sempre bem frio e rigoroso onde eu morava, quando isso aconteceu. As noites eram escuras feito piche e o vento era forte e incansável. Nós nos mudamos bastante. O meu pai trabalhava em uma multinacional que vivia transferindo ele de cidade para cidade.

Para começar, a casa onde morávamos, por um breve período, era bem grande. nós éramos apenas 4, meu pai, minha mãe, meu irmão mais novo e eu. Eu tinha 16 e estava louca para completar 17. O meu irmão estava com 14 anos. Ninguém realmente sabia da história da nossa casa, então os meus pais não tinham motivo para não se mudar para lá. Algo que eu quero falar sobre a nossa casa era um corredor que tinha lá, bem comprido e estrito, com várias portas, levando aos banheiros e quartos. De noite, aquele corredor era o lugar mais intimidador daquela casa. De noite eu sempre corria para o meu, que ficava no fim do corredor.

Naquela noite, que eu vou sempre me lembrar, os meus pais foram jantar fora e o meu irmão foi dormir cedo, já que estava doente e com febre. Eu estava na cozinha preparando a minha sobremesa favorita, sorvete de creme completo com calda, farofa de sorvete e chantili. Depois eu coloquei todos os pratos na pia e fui ver TV, comendo o meu sorvete. Depois que o sorvete acabou eu desliguei a TV, fui escovar os meus dentes. Depois de passar pela rotina de "me aprontar para dormir" eu comecei a sentir um cheiro ruim. Era um cheiro bem estranho, como se tivesse algo queimando. Eu imediatamente corri de volta para a cozinha para ver se o forno estava ligado, mas estava tudo desligado. Nada fora do normal. Estranho, eu pensei. Eu simplesmente ignorei o cheiro e fui para a cama, com a barriga cheia de sorvete. Eu acordei duas horas depois, lá pela meia noite. Os meus pais ainda não tinham voltado, o que era normal. Eu tinha acordado com o barulho de uma porta batendo. O meu irmão idiota, eu pensei. Eu pulei da cama com uma fúria descontrolada, para ir gritar com ele para parar de fazer barulho no meio da noite. Eu andava rápido como muitas adolescentes enfurecidas fazem quando não estão de bom humor. Eu abri a porta do quarto dele pronta para soltar os cachorros e berrar a plenos pulmões, mas ele estava dormindo pesado, babando no travesseiro inteiro.

O medo começou a tomar conta de mim nesse instante. Eu fui para a outra ponta do corredor, e abri a porta que leva ao resto da casa. A porta tinha a tranca no meio da maçaneta, um botãozinho que você vira para trancar e destrancar a porta. Eu abri a porta e passei para a sala. Eu senti de novo o cheiro de alguma coisa queimando. Foi quando eu senti aquele arrepio na espinha, e o pelo dos meus braços arrepiaram, o ar em volta de mim estava gelado. Eu me perguntei se alguém tinha deixado uma janela aberta. Não, a minha mãe nunca abriria uma janela, ainda mais no meio do inverno. A minha cabeça virou de repente para o outro lado da sala quando eu vi alguém entrando na cozinha. Eu senti um frio no estomago e uma onda de energia se espalhou pelo meu corpo. O meu primeiro instinto foi sair da casa, e rápido. Eu lembrei que o meu irmão estava dormindo. Ah não, eu pensei. Eu corri de volta para o corredor e fui direto para o quarto do meu irmão. Eu agarrei ele e dei um chacoalhão e falei num tom de voz mais alto que eu conseguia sem fazer muito barulho, "a gente tem que sair daqui, tem alguém na casa!" Ele arregalou os olhos e saiu correndo pela porta do quarto dele, e eu fui logo em seguida. A gente estava chegando perto da porta do corredor. O meu irmão deu um encontrão dela e ela escancarou, e depois ele seguiu pela porta da frente. Eu estava indo bem atrás dele, mas a porta do corredor bateu bem na minha frente. Eu girei a maçaneta para abri-la, mas ela estava trancada! Os meus dedos se enroscavam furiosamente para destrancá-la, então eu senti o cheiro de coisa queimada de novo. Só que dessa vez estava muito mais forte. Eu virei e vi uma pessoa parada na outra ponta do corredor. Pânico. Ele estava se aproximando de mim, andando bem devagar. Só que havia algo de estranho com ele, o corpo inteiro dele estava coberto por uma crosta negra. Eu gritei e me concentrei em destrancar a porta. Ele ia chegando cada vez mais perto, e o cheiro estava ficando cada vez mais forte. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto enquanto eu gritava para a porta, rezando para ela destrancar. Eu gritava o nome do meu irmão. A figura sinistra estava mais perto agora, a quase três passos de mim. Tudo o que eu podia fazer era gritar. Eu comecei a bater na porta em pânico. Eu batia e gritava. O homem parou. Eu achei que estava destinada a morrer na minha própria casa. Ele esticou o braço e agarrou o meu ombro. Eu gritei "NÃO!!!", eu gritei como se a minha vida dependesse daquilo, e até onde eu sabia, dependia! Então a porta abriu violentamente, quase me pegando. Era o meu irmão. Ele agarrou o meu braço e me puxou e então saímos correndo sem nunca olhar para trás. As minhas costas estavam doendo, onde o homem tinha me agarrado, era a pior dor que eu já tinha sentido na minha vida toda. Eu não parava de chorar e berrava com o meu irmão perguntando porque ele não tinha ido antes. Ele falou que assim que ele viu que a porta bateu atrás dele ele voltou para abri-la e não estava conseguindo. Ele falou que me ouvia gritar e bater na porta, mas não conseguia abrir ela. Quando ele me ouviu gritar "NÃO!!!" ele se jogou na porta com tudo e só assim conseguiu abrir ela. Eu não conseguia parar de chorar. Eu chorei enquanto ficava na rua esperando os nossos pais. Eu chorei quando eles chegaram. Eu chorei quando a gente foi para um hotel. Eu chorei o resto da noite. Eu estava em choque. Aquela foi a pior experiência que eu tive durante a minha vida toda.

No dia seguinte eu não queria voltar para a casa. Eu não queria nunca mais entrar naquela casa. Nós nos mudamos depois de dois dias do que aconteceu lá e eu não entrei lá nesse tempo.

Depois de algum tempo eu descobri que um homem muito rico viveu na nossa casa, sozinho. Numa noite de inverno ele acendeu a lareira e acabou dormindo. Naquela noite a mangueira de gás do fogão arrebentou, o que causou um incêndio na casa, matando o homem de um jeito horrível e doloroso. Depois a família dele reformou a casa e a vendeu.

Até hoje eu imagino se ele ainda não continua por lá rondando a casa durante o inverno.

Passageiros Fantasmas

Há oito anos passados, residia eu em Campina Grande, na Paraíba, onde fui testemunha de tudo o que passo a relatar.

Existe uma estrada de rodagem que liga aquela cidade à de Patos, com uma distância aproximada de 140 km.

A viagem por essa estrada é longa e bastante arriscada, principalmente entre Juazeirinho e Patos, ligadas pela Serra da Viração, onde se encontra a passagem mais perigosa do percurso, ou seja, um despenhadeiro de mais de 200 metros. Nesse local, já ocorreram até hoje nada menos que 183 desastres fatais.

Certa vez, pelas 21:30, achava-me em companhia de amigos tomando umas cervejas no "Bar Petrópolis", situado na praça de Campina Grande e bem defronte do ponto onde estacionavam os carros de aluguel, quando nossa atenção foi despertada por um automóvel que chegava em grande velocidade, freando bruscamente em frente ao estabelecimento.

Imediatamente o carro ficou cercado de curiosos motoristas de praça, freqüentadores do bar e outras pessoas. Vimos então que seu motorista estava transfigurado e que alguma coisa de anormal lhe acontecera, pois além de sua palidez, o homem não conseguia articular uma só palavra.

Foi carregado para o bar, onde lhe deram um pouco d'água, mas só depois de longo tempo se reanimou.

Com dificuldade, a princípio, e dando mostras de grande pavor, o motorista passou a contar o que lhe sucedera, tal como reproduzo abaixo:

- Foi uma coisa terrível! Eu peguei uma família que queria ir até Patos e para ali segui muito bem. Deixei os fregueses e providenciei para regressar o mais cedo possível, já pensando na travessia da serra, à noite. jantei no hotel, depois mandei encher o tanque de gasolina e, às 18 horas, como não aparecia passageiro algum para a volta, resolvi vir sozinho. Ao chegar à descida do Morro da Viração, o motor parou, de repente. Desci e fui ver o que havia: era uma das velas que estava frouxa. Reparado o defeito, entrei novamente no carro. Mal bati a porta, senti duas pancadinhas no ombro direito...Virando-me, vi dois homens, altos e vestidos de branco. Tomei um susto tremendo, pois não tinha visto pessoa nenhuma na estrada, onde tudo estava deserto... Mal, entretanto, olhei pra trás, um daqueles passageiros me disse, com voz fanhosa, cujo som ainda tenho gravado nos ouvidos:

- Siga a toda velocidade sem olhar pra trás, pois temos que chegar a Campina Grande antes das 10 horas!

- É fácil imaginar como arranquei a toda velocidade, vindo por aí feito um doido... Nem sei como não rolei num barranco... Suava frio e nem coragem tinha de olhar pelo espelho, para certificar-me se os dois cavalheiros permaneciam sentados. Só aqui, na estrada de Campina Grande, foi que arrisquei uma olhadela, para constatar com espanto que não havia vivalma no banco de trás!... Vim "tocando" pela estrada, a mais de 100 km por hora, não me lembrando de mais nada, nem de como parei aqui...

Aquele motorista, pelo que soube, jurou nunca mais atravessar sozinho, quer de dia, quer de noite, o assombrado trecho da Serra da Viração e, decerto, cumpriu sua promessa!

domingo, 14 de junho de 2009

Fantasma Caroneiro

Cerca de 4 meses atrás a minha esposa e eu estávamos na estrada, indo para a nossa lua de mel. Era uma viagem de 2 horas, e ainda estava noite, mas nós não nos importávamos, contanto que estivéssemos juntos. Só para variar, encontramos um congestionamento na estrada (era véspera de feriado). Normalmente você passaria por essa área em menos de 20 minutos, mas quando está do jeito que estava, você perde cerca de uma hora.

Depois de 15 minutos no congestionamento a minha esposa agarrou o meu braço e começou a tremer. Eu olhei para ela e perguntei se ela estava bem, mas os olhos dela estavam grudados na beirada da estrada . Então ela falou, "me diz que você esta vendo ele". Eu olhei lá fora e falei "vendo quem?" A mão dela tremia e ela falou "ele... o cara sentado ali... o caroneiro..." De novo eu olhei e não vi ninguém, então ela olhou nos meus olhos e falou "Não olha! Para de olhar! Ele está olhando nessa direção e está vindo para cá!" Eu olhei em todas as direções e não vi ninguém. Então a minha esposa começa a tremer inteira e fala "Eu estou ficando louca... estou ficando louca... me da algum remédio, me leva pra algum médico... por favor, eu estou perdendo o juízo!" Ela falava isso e agarrava o meu braço e tremia muito. Eu tive que gritar umas duas vezes e dar um chacoalhão nela para ela não ficar histérica. Então ela olhou para o banco de trás e falou "Ele está aqui... no banco de trás." Eu olhei mas não vi ninguém, mas a coisa estava muito intensa para eu achar que não estava acontecendo nada. Nesse meio tempo o tráfego começou a melhorar e já estava dando para andar numa boa.

Então eu comecei a fazer perguntas para a minha esposa, sobre o cara no banco de trás. Ela não olhava para trás, mas conseguia ver ele pelo espelho retrovisor. Ele era jovem, com calça jeans rasgada, uma blusa rasgada, não tinha olhos nas órbitas e era meio transparente. A única coisa que ele fazia era olhar para o relógio dele e a cada vez que ele olhava ficava mais desesperado. Ele começou a chacoalhar a cabeça e a reclamar, apesar da gente não conseguir ouvir o que ele dizia.

A minha esposa estava aterrorizada, eu estava calmo até que o fantasma esticou a mão e encostou em mim. Tudo o que eu senti foi um frio na parte de trás da minha cabeça, no pescoço e ombro. Eu não podia ver o que era, mas a minha esposa estava falando que ele estava querendo que eu fosse mais depressa. Então ele fez a mesma coisa com a minha esposa e nesse momento eu acreditei em tudo o que ela tinha dito, quando eu vi o cabelo dela ser levantado por uma mão invisível.

Naquela hora já estávamos fora do engarrafamento e estávamos indo bem rápido e o fantasma parecia estar mais calmo com isso. Nós estávamos chegando em um monumento que tem na estrada, para o qual o fantasma ficava apontando, segundo a minha mulher. Ela praticamente estava gritando para que eu parasse o carro lá.

Assim que eu parei o carro, eu olhei para o banco de trás de novo e não vi ninguém e, quando eu olhei para a minha esposa eu vi ela grudada na janela dela fazendo tchau com a mão. Ela me olhou e falou que era para pegar as malas que estavam no porta malas e colocar no banco de trás. Eu perguntei porque e ela praticamente berrou para eu pegar logo as malas e colocar lá.

Eu sai do carro peguei as malas no porta malas e as coloquei dentro do carro no banco de trás. Segundo ela, um fantasma não pode pegar carona com você se não tiver acentos livres no carro para ele sentar.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Você Ainda Me Ama?

A uns 10 anos atrás, eu tive câncer. Nesse ano eu tive a minha primeira paixão. O nome dele era Mateus, e mesmo tendo somente 6 anos, eu sabia que amava ele. Ele era tudo para mim.

Eu consegui sobreviver ao câncer, mas ele não teve essa sorte. Antes de morrer ele me deu um anel de prata, que eu sempre usei. No 10º aniversário da minha cura, eu estava me deitando para dormir e ouvi uma vozinha sussurrando na minha orelha. "Mesmo que você não possa me ver, eu estou sempre com você, e mesmo que você não sinta, eu estou sempre segurando a sua mão." Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto quando eu percebi quem estava falando aquilo, então eu perguntei "Mesmo você não estando mais vivo, você ainda me ama?" A resposta dele foi um aperto gostoso na minha mão.

Na manhã seguinte, quando eu estava indo para a escola, eu achei o anel na minha mochila. Eu tinha perdido ele a um pouco mais de um ano. Naquele momento eu tive certeza de que ele ainda me amava.

16º Andar

Em janeiro de 2003 uma turma de amigos parte à capital Porto Alegre para pousar uma semana em um prédio de uma amiga, com o intuito de freqüentar o Fórum Social Mundial. O centro da história não se baseia em nosso intuito, mas sim no prédio em que ficamos. Como se localiza bem na zona central da cidade, têm uma história muito longa, sendo muito antigo e muito grande. Sua estrutura interna, as paredes, eram tudo de madeira, dando um ar antigo porém clássico; parecia que muita coisa já havia acontecido ali. O ar também não era comum, dando a impressão que ao entrar no prédio, nos sentíamos em outro lugar. Mas o que mais marcou mesmo foram os 2 elevadores de madeira e seu silêncio quebrado por misteriosos estalos, que a princípio, pensávamos ser causados pela sua mecânica bem antiga.

Nenhum dos companheiros da turma tinha claustrofobia, mas, quase que inevitavelmente, ao entrarmos no elevador, sentíamos uma horrível sensação de sufocamento e mal-estar. No meio daquela semana, em uma noite faltou bebida no quarto e eu e mais dois amigos ficamos encarregados de comprar cerveja às 3 horas da madrugada... no momento em que voltamos da nossa busca frustrada, entramos no elevador da direita, pois já estava esperando no térreo (curiosidade: descemos com o elevador da esquerda). Entramos e todos são testemunha, pressionei o botão do 7º andar. Me manifestei por demorar demais até chegarmos em nosso andar, quando começamos a contar os pilares, e notamos mais de 10 andares passando por nós. Misteriosamente, o elevador parou no 16º andar, sem abrir as espessas portas de madeira oca. Um terrível silêncio tomou conta do ambiente, enquanto olhávamos um para o outro, abismados e ao mesmo tempo buscando alguma explicação para tudo aquilo. De repente, ouvimos um motor acionando , com o ruído bem próximo da gente e deduzimos que estávamos perto do último andar do prédio. Conseguimos também ouvir que o elevador da esquerda parou no mesmo andar que o nosso; abrindo suas portas, e segundos depois, abrem-se as portas do nosso elevador. Todos apavorados saem imediatamente do elevador, e observam que não tem nenhuma pessoa conduzindo o outro elevador. descemos rapidamente pelas escadas até o 7º andar.

Dois dias depois, ficamos no prédio novamente durante a noite e em todo o tempo em que não conseguíamos dormir, ouvimos claramente que os elevadores não pararam de funcionar, e isso tudo já era de conhecimento de toda a turma. Às vezes alguns ruídos mais altos me despertavam novamente.

Na manhã seguinte resolvemos comentar os fatos para o dono do bar onde tomávamos nosso café da manhã. Ele nos olhou com seriedade e ao mesmo tempo com um ar de quem já tinha ouvido muitas vezes a mesma história. Nos contou que no século passado o prédio era um hotel, e nele trabalhava um homem que dedicara a vida ao bem-estar e limpeza do local. Era responsável por toda a manutenção do prédio, bem como dos elevadores. Um fato horroroso acabou com a história do hotel. O homem, cujo ninguém se recordava o nome, no dia da manutenção dos elevadores estava ajustando a altura que o aparelho pára em relação aos andares. Seu alinhamento estava muito acima do normal. Não se sabe como, mas dizem que ele acabou caindo do 16º andar quando entrou no espaço destinado à ocupação do elevador, mas este não estava no mesmo andar.

Enfim, dentro da realidade... a gente até hoje se pergunta: isso foi uma simples coincidência? Achamos que sim mas, a partir dessa temporada, todos nós passamos a usar as escadas...